O espanhol que conhecemos hoje, principalmente na América Latina, é resultado de encontros culturais intensos. Por trás das palavras usadas no dia a dia, existem histórias que remontam a povos que floresceram muito antes da chegada dos conquistadores e colonizadores. Assim como os astecas e outros povos deixaram sua marca no espanhol mexicano, os incas também deixaram sua marca no espanhol falado nos Andes.

A língua dos incas, o quéchua, foi durante séculos um instrumento de comunicação essencial em boa parte da América do Sul. Até hoje, seus vestígios permanecem presentes não apenas no espanhol andino, mas também no português e até em outros idiomas do mundo. Termos como pampa, puma, quinoa, chácara e poncho, por exemplo, se consolidaram a partir dessa convivência entre culturas.

Neste artigo, vamos descobrir como esse legado linguístico se formou e por que ele ainda é tão relevante.

 

Quem eram os incas?

O Império Inca surgiu nos Andes e se expandiu de forma impressionante entre os séculos XV e XVI. Abrangia territórios que hoje pertencem ao Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Argentina. Com técnicas agrícolas avançadas, arquitetura monumental e uma complexa organização social, os incas construíram uma das civilizações mais marcantes da América ancestral.

Entre todos os legados culturais deixados pelos povos andinos, o idioma ocupa um lugar especial. Muito antes da ascensão do Império Inca, no século XV, diversas línguas já eram amplamente faladas em diferentes regiões dos Andes. Quando os incas consolidaram seu poder, adotaram oficialmente o idioma conhecido como quéchua clássico ou do sul, transformando-o em língua franca do Peru pré-colombiano. Esse processo não apenas facilitou a reunião de povos de origens distintas, como também fortaleceu a administração de um território vastíssimo.

O quéchua não era restrito a uma única etnia: tornou-se a ponte entre culturas e regiões, sendo utilizado em cerimônias religiosas, no comércio e como idioma oficial da burocracia estatal. Quando os espanhóis chegaram ao continente no século XVI, encontraram uma língua já consolidada e impossível de ignorar, que continuaria a ter relevância mesmo após a conquista.

Vale destacar que, antes da introdução do alfabeto latino pelos colonizadores, o quéchua não possuía forma escrita. Os primeiros registros escritos do idioma surgiram apenas após a chegada do frei Domingo de Santo Tomás ao Peru em 1538. Fluente em quéchua a partir de 1540, ele publicou em 1560 a primeira gramática da língua: Grammatica o arte de la lengua general de los indios de los reynos del Perú, um marco fundamental para o estudo e a preservação desse patrimônio linguístico.

 

 

O encontro com o espanhol

A convivência entre o quéchua e o espanhol não foi apenas um choque, mas também um processo de troca. Os conquistadores precisavam de palavras para descrever elementos da fauna, flora e cultura que não existiam na Europa. Assim, muitos termos quéchuas foram incorporados naturalmente ao espanhol.

No século XVI, com a conquista do território inca, missionários, administradores e colonos espanhóis tiveram de aprender quéchua para se comunicar. Ao mesmo tempo, os povos andinos foram expostos ao espanhol. Dessa interação nasceu um vocabulário híbrido, no qual palavras quéchuas se misturaram ao espanhol e ganharam vida própria.

Com o passar do tempo, essas palavras deixaram de ser vistas como empréstimos "exóticos" e se tornaram parte integrante da língua. É por isso que hoje, ao falarmos espanhol (ou até português), utilizamos termos de origem inca sem perceber.

A herança quéchua pode ser percebida em diferentes campos:

  • · Natureza e geografia: nomes de animais, plantas e paisagens.
  • · Alimentação: alimentos cultivados e consumidos pelos povos andinos.
  • · Cultura e vestuário: peças de roupa e objetos típicos.
  • · Medicina e botânica: plantas usadas para tratamento e rituais.

Esse vocabulário não ficou restrito às montanhas. Muitas palavras viajaram pelo mundo e hoje fazem parte do léxico global.

 

Vocabulário quéchua no espanhol (e português)

Abaixo, alguns exemplos de palavras quéchuas que chegaram ao espanhol e, em muitos casos, também ao português:

Quéchua Espanhol Português Significado
cancha cancha cancha/campo campo de jogo
carpa carpa carpa tenda, barraca
chaka chacra chácara pequena propriedade rural
charqui charqui charque carne seca
chirimoya chirimoya chirimóia fruta tropical
choclo choclo milho verde milho verde
coca coca coca planta tradicional das montanhas
condor cóndor condor ave dos Andes
cuy cuy porquinho-da-índia porquinho-da-índia
guano guano guano adubo natural
huaca huaca huaca lugar sagrado
inti inti inti sol, divindade solar
llama llama lhama animal doméstico andino
palta palta abacate abacate
pampa pampa pampa planície extensa
papa papa batata batata
ponchu poncho poncho capa de lã típica dos Andes
puma puma puma grande felino andino
quinina quinina quinina substância medicinal da casca da árvore cinchona
quinwa quinoa quinoa grão típico andino
quipu quipu quipu sistema de cordas e nós para registro
vicuña vicuña vicunha animal similar à lhama

 

O quéchua hoje

Hoje, estima-se que entre 8 e 10 milhões de pessoas falam quéchua em países como Peru, Bolívia e Equador. Além disso, políticas culturais e educacionais vêm buscando valorizar essa herança, mantendo viva uma língua que resiste há séculos.

Ao mesmo tempo, muitas palavras quéchuas se universalizaram. Termos como poncho, puma e quinoa ultrapassaram fronteiras e entraram em diferentes idiomas. Isso mostra como o legado inca não pertence apenas aos Andes, mas ao mundo inteiro.

 

 

A influência da língua dos incas no espanhol é um lembrete de que os idiomas são vivos, mutáveis e sempre abertos a novas experiências. Palavras quéchuas que usamos até hoje carregam histórias de povos que souberam transformar a sua realidade e deixaram marcas permanentes.

Estudar espanhol, portanto, é também abrir uma janela para esse passado: aprender um idioma que se enriqueceu com culturas ancestrais e que, ao longo do tempo, soube preservar a memória de uma das civilizações mais fascinantes da América.

Do pampa ao poncho, o vocabulário quéchua dos incas deixou marcas no espanhol. Descubra essa herança cultural com a Fisk.

 


Sonhar é bom, realizar é Fisk!

A Fisk oferece aulas presenciais ou on-line, muita interatividade com a plataforma Cyber Fisk, certificações internacionais e vários outros benefícios. Aqui você conquista sua autonomia para falar com o mundo! Cadastre-se para receber mais informações sobre nossos cursos.